quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Momento fala que eu te escuto: Quase diva

Os últimos meses, desde a minha última postagem, tem sido cheio de pendências, por isso a falta de posts.
Neste tempo ausente eu tirei férias em uma época que não pude fazer muita coisa por falta de companhia (ninguém merece, ano que vem tem que dá nordeste com o amor) mas descansei, e só Deus sabe o quanto precisava desse stop, portanto, não adianta eu reclamar, me valeu.
O fato é que perdi praia com a família, essa tem sido minha sina nos últimos anos, não posso reclamar também, pois tem me valido.
Devido a isso estou home alone esta semana, curtindo epifânias, fazendo planos do tipo girls just wanna have fun com as amigas, saboreando a comidinha da minha vó, ou seja, tô me virando da melhor maneira...
.... Mas eu tenho um carro chamado monza, vulgo tubarão, que ontem resolveu me deixar na mão em plena solidão, isso depois de um momento diva.
Momento diva:
Acordei 6:50 em ponto, sem soneca, tomei banho, fiz meu próprio café (raro), preparei um queijo quente e sai. No carro coloquei uns sambas antigos baixados outrora e estava indo feliz da vida ao trabalho, cantarolando: "A tristeza é senhora, desde que o samba é samba é assim..."
Momento fala que eu te escuto:
... Até que o carro morre, em pleno Paiva, e não liga mais. E o desespero, para quem eu ia ligar? Me surgiu na mente o tio Wilson que tem comércio próximo ao Paiva, liguei e ele foi me socorrer, buscou o mecânico, me emprestou o carrão dele para chegar ao trabalho e no fim deu tudo certo.
Daqui pra frente pensamento positivo para que o "tubarão" aguente até o fim das férias dos meus pais... Amém!


No próximo post eu farei um levantamento dos melhores e piores momentos de 2010. Nostálgico. Adoro.


A trilha sonora de hoje será "Condicional" dos Los Hermanos principalmente por causa do trecho:

"Os dias que eu me vejo só
São dias que eu me encontro mais
E mesmo assim eu sei tão bem
existe alguém pra me libertar."





Beijo de Um ser sendo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Lavoura Arcaica

Hoje nas minhas andanças na blogsfera vi uma postagem sobre o filme "Lavoura Arcaica", dirigido pelo diretor Luis Fernando Carvalho e decidi publicar algo aqui no meu cantinho.
O filme é uma adaptação, diga-se de passagem fiel, do livro escrito pelo paulistano contemporâneo Raduan Nassar.
Conheci e fiz a leitura do livro na faculdade e me encantei, a obra é densa, com valores imorais para uma sociedade moralista. Nessa mesma época assisti ao filme.

Ambos são fantásticos, lindos, sublimes, chocantes. Pretendo ler e ver novamente a obra para escrever algo mais preciso aqui no blog, mas não podia esperar para postar algo assim, de momento.
A adaptação da obra para o cinema é fiel ao livro e por isso muita gente acha um filme parado e altamente reflexivo. Eu achei fantástico, as interpretações de Selton Mello, Raul Cortez, Leonardo Medeiros etc são surreais. As duas versões dessa obra são obrigatórias.


Segue trecho sobre "O tempo":


"O tempo é o maior tesouro que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim; é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo entretanto prover igualmente a todo mundo; onipresente, o tempo está em tudo. (...) rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira. O equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso, ninguém em nossa casa há de dar nunca, o passo mais largo que a perna: dar o passo mais largo que a perna é o mesmo que suprimir o tempo necessário à nossa iniciativa (...) pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas."


[Raduan Nassar Tempo Lavoura Arcaica]

Abaixo, Raduan Nassar por Raul Cortez Tempo Lavoura Arcaica:



Um beijo de Um ser sendo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Texto interessante

O texto abaixo foi publicado no TwitLonger por @GiseleJota e escrito por Renato Braga. Achei interessante, espero que gostem.

Segue texto:


Desculpem meus amigos, mas vou votar no Serra.

Cansei de ir ao supermercado e encontrá-lo cheio. O alimento está barato demais. O salário dos pobres aumentou, e qualquer um agora se mete a comprar, carne, queijo, presunto, hambúrguer e iogurte.

Cansei dessa história de PROUNI, que botou esses tipinhos, sem berço, na universidade. Até índio, agora, vira médico e advogado. É um desrespeito... Meus filhos, que foram bem criados, precisam conviver e competir com essa raça.

Cansei dos bares e restaurantes lotados nos fins de semana. Se sobra algum, a gentalha toda vai para a noite. Cansei dessa demagogia.

Cansei de ir em Shopping e ver a pobreza comprando e desfilando com seus celulares. Cansei dos estacionamentos sem vaga. Com essa coisa de juro baixo, todo mundo tem carro, até a minha empregada. "É uma vergonha!", como dizia o Boris Casoy. Com o Serra os congestionamentos vão acabar porque, como em S.Paulo, ele vai instalar postos de pedágio nas estradas brasileiras a cada 35 km e cobrar caro.

Desculpem mas Voto no Serra....

O governo reduziu os impostos para os computadores. A Internet virou coisa de qualquer um. Pode? Até o filho da manicure, pedreiro, catador de papel, agora navega, tem Orkut...Vergonha, vergonha, vergonha...

Cansei dessa história de facilitar a construção e a compra da casa própria (73% da população, hoje, tem casa própria, segundo pesquisas recentes do IBGE). E os coitados que vivem de cobrar aluguéis? O que será deles? Cansei dessa palhaçada da desvalorização do dólar. Agora, qualquer um tem MP3, celular e câmera digital. Qualquer umazinha, aqui do prédio, vai passar férias no Exterior. É o fim...

Também cansei dessa coisa de biodiesel, petroleo do pré-sal, de agricultura familiar. O caseiro do meu sítio agora virou "empreendedor" no Nordeste. Pode? Cansei dessa coisa assistencialista de Bolsa Família. Esse dinheiro poderia ser utilizado para abater a dívida dos empresários de comunicação (Globo, SBT, Band, RedeTV, CNT, Folha, Estadão, etc.). A coitada da "Veja" passando dificuldade e esse governo alimentando gabiru em Pernambuco. É o fim do mundo.

Vou votar no Serra. Cansei, vou votar no Serra, porque quero de volta as emoções fortes do governo de FHC, quero investir no dólar em disparada e aproveitar a inflação. Basta! Vou votar no Serra. Quero ver essa gentalha no lugar que lhe é devido. Quero minha felicidade de volta.

Renato Braga

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Brasil encantado com Palavra [En]cantada

Há algumas postagens eu escrevi sobre o documentário "Palavra [En]cantada" e através desse post a Mary pediu que eu fizesse um ensaio mais elaborado para ser publicado no MS News de Abril e decidi, só hoje, compartilhar na blogsfera, espero que gostem:


Brasil encantado com Palavra [En]cantada

Por * Marcela Oliveira

“(...) o caminho de silêncios ganha direção, a música dá forma à palavra como se não fosse possível distingui-las. Porque a palavra é imagem que não tem forma, e a música, forma que não tem imagem. Da união nasce um significado. Reconhecemos na letra a melodia, e vice-verso, feito a expressão de uma coisa só.” A música da letra, Fábio Lucas.

O documentário de longa-metragem Palavra [En]cantada (2009), dirigido por Helena Solberg, é um super momento epifânico.


Como é bom e gratificante ver músicos, linguistas e poetas de renomes em um mesmo filme. O documentário passa por vários caminhos em que a música e a poesia percorreram no Brasil, o que nos dá a sensação de que música, história e lirismo podem e devem caminhar juntos.


O filme nos traz depoimentos a respeito dos trovadores; comentários sobre os antigos carnavais de rua e do morro, com destaque para Noel Rosa e Cartola; entendimentos sobre o surgimento da Bossa Nova com João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes entre outros; para logo mais nos fazer deparar com a grande novidade do tropicalismo com Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil etc; até chegarmos ao que conhecemos de música hoje, em um momento contemporâneo de diversidade de estilos.

O documentário conta com participações de primeira linha do cenário artístico musical brasileiro: Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Luiz Tatit, Maria Bethania, Tom Zé, Adriana Calcanhoto, José Miguel Wisnik, Jorge Mautner, Antônio Cícero, Ismael Silva, Paulo César Pinheiro, Lirinha e Martinho da Vila, debatendo sobre a construção do fazer poético e musical no Brasil.

Ver Chico rindo zombeteiro de sua composição de Choro Bandido; Tom Zé (sempre exagerado e belo) caracterizando sua primeira impressão das canções de Dorival Caymmi; Caetano, em imagem de arquivo, na época de Alegria Alegria, tentando explicar a modernidade de sua composição e definindo a cultura pop e massificada da época; Lenine quase aos prantos por causa das variações fonéticas de nossa língua; Maria Bethania caracterizando-se como intérprete amante da poesia; Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, dizendo o quanto a poesia pode e deve ser simples e bela ao mesmo tempo; e perceber que hoje muitos seguem o sempre novo e inesquecível Tropicalismo não tem explicação. É extraordinário.

Para quem se identifica com música, arte e literatura, e também para quem tem interesse na nossa vasta cultura literal e musical, Palavra [En]cantada é obrigatório.

Recomendado para a vida.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Momento Catártico: Mary & Max

Na postagem de hoje quero falar um pouco sobre o presente epifânico e catártico que a Priscila me enviou por correio há algumas semanas: a animação de longa-metragem no estilo stop-motion "Mary & Max", escrita por Adam Elliot e com personagens feitos de massinha.

Fiquei encantada com o filme, que tem a história centralizada nos personagens que da nome ao título (Mary e Max). A temática da animação conta com reflexões existenciais, problemas familiares, pensamentos filosóficos, sexualidade entre outros. Portanto, apesar de ser uma animação, creio que não seja recomendado a crianças muito novas. Aliás, o filme está longe de ser uma animação nos moldes da Disney/ Pixar, pois os tons são obscuros, os personagens altamente caricatos, há sim a riqueza de detalhes nos cenários, mas com certa deformidade.

Mary Daisy Dinkle, 8 anos, é uma menina solitária que vive na Austrália com a mãe que é alcoólatra e cleptomaníaca e com um pai lunático. Por causa deles ela acredita que os bebês em seu país nascem em canecas de cerveja. Certo dia, ao visitar com a mãe uma loja/ correio (não me lembro ao certo) Mary tem a ideia de enviar uma carta a um destinatário desconhecido para saber como os bebês nascem na América.

O destinatário é Max Jerry Horowitz, um americano de Nova Iorque, 44 anos, solitário, gordo, autodidata, com uma vida medíocre e portador da doença Síndrome de Asperger (bastante abordado no filme). Quando Max recebe e lê a carta de Mary passa por uma crise de ansiedade, mas responde esclarecendo todas as dúvidas da garota.

Apesar de certa vivência/ experiência do personagem Max e de toda a expectativa de uma vida inteira pela frente da personagem Mary, eles são sujeitos que se complementam. Mary leva sentido à vida de um quarentão solitário e Max passa à Mary a maturidade necessária, tanto que ela decide especializar-se na doença Síndrome de Asperger para ajudar o amigo.

A partir da troca de cartas começa uma amizade por correspondência que dura 20 anos, com direito a altos e baixos, alegrias e tristezas desses sujeitos tão verossímeis. Tenho vontade de escrever contando cada detalhe, cada cena, mas recomendo que todos assistam e sintam o que o filme transmite. Vale à pena.


Obs.: Eu, particularmente, tive uma catarse muito forte, uma identificação enorme com estes personagens, com direito a chororô e insônia (daquelas que o pensamento invade e não nos deixa dormir).




segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lima Barreto: Epifania e Catarse pura


Neste fim de semana a minha amiga Marília, a famosa Mary, esteve em São Paulo e assistiu a peça de teatro "Policárpio Quaresma", do diretor Antunes Filho, inspirado na obra de Lima Barreto.


O que isso tem a ver comigo?


Muita coisa, ou talvez tudo, pois me fez vir à mente, já esquecida, esse personagem tão interessante da nossa literatura, esse escritor tão esquecido pela grande maioria.


Na faculdade, quando entramos no realismo/ pré-modernismo fizemos a leitura de "Clara dos Anjos" e "Triste Fim de Policarpo Quaresma" e agora eu decidi que por curiosidade ou respeito, ainda não meditei sobre isso, preciso ler novamente essas obras, preciso ler a nossa literatura, pois me faz bem, me faz pensar.


Lima Barreto, pelos seus ideais e incorformismo de uma sociedade brasileira já tão problemática em sua época, criou Policarpo Quaresma, tão patrióta, tão culto e tão ingênio, como muitos de nós, que sonhamos com um Brasil justo, que amamos nossa história, apesar dos pesares. Espero que não tenhamos um triste fim como o de Policárpio e tantos outros que acreditaram na justiça por um país justo.

Lima é atual. Simples. Fantástico.


A Mary trouxe um material lindo sobre a peça, com muitas citações, ensaios e artigos sobre Lima Barreto e sua obra catártica. Muito interessante. Acho digno compartilhar algumas dessas epifanias:


“A arte literária se apresenta como um verdadeiro poder de contágio que a faz facilmente passar de simples capricho individual, para traço de união, em força de ligação entre os homens (...) a Literatura reforça o nosso natural sentimento de solidariedade com os nossos semelhantes” [Prefácio "Clara dos Anjos"]



Elogio da morte


Não sei quem foi que disse que a Vida é feita pela Morte. É a destruição contínua e perene que faz a vida.

A esse respeito, porém, eu quero crer que a Morte mereça maiores encômios.

É ela que faz todas as consolações das nossas desgraças; é dela que nós esperamos a nossa redenção; é ela a quem todos os infelizes pedem socorro e esquecimento.

Gosto da Morte porque ela é o aniquilamento de todos nós; gosto da Morte porque ela nos sagra. Em vida, todos nós só somos conhecidos pela calúnia e maledicência, mas, depois que Ela nos leva, nós somos conhecidos (a repetição é a melhor figura de retórica), pelas nossas boas qualidades.

É inútil estar vivendo, para ser dependente dos outros; é inútil estar vivendo para sofrer os vexames que não merecemos.

A vida não pode ser uma dor, uma humilhação de contínuos e burocratas idiotas; a vida deve ser uma vitória. Quando, porém, não se pode conseguir isso, a Morte é que deve vir em nosso socorro.

A covardia mental e moral do Brasil não permite movimentos. de independência; ela só quer acompanhadores de procissão, que só visam lucros ou salários nós pareceres. Não há, entre nós, campo para as grandes batalhas de espírito e inteligência. Tudo aqui é feito com o dinheiro e os títulos. A agitação de uma idéia não repercute na massa e quando esta sabe que se trata de contrariar uma pessoa poderosa, trata o agitador de louco.

Estou cansado de dizer que os malucos foram os reformadores do mundo.

Le Bon dizia isto a propósito de Maomé, nas suas Civilisation des arabes, com toda a razão; e não há chanceler falsificado e secretária catita que o possa contestar...

São eles os heróis; são eles os reformadores; são eles os iludidos; são eles que trazem as grandes idéias, para melhoria das condições da existência da nossa triste Humanidade.

Nunca foram os homens de bom senso, os honestos burgueses ali da esquina ou das secretárias chics que fizeram as grandes reformas no mundo.

Todas elas têm sido feitas por homens, e, às vezes mesmo mulheres, tidos por doidos.

A divisa deles consiste em não ser panurgianos e seguir a opinião de todos, por isso mesmo podem ver mais longe do que os outros.

Se nós tivéssemos sempre a opinião da maioria, estaríamos ainda no Cro-Magnon e não teríamos saído das cavernas.

O que é preciso, portanto, é que cada qual respeite a opinião .de qualquer, para que desse choque surja o esclarecimento do nosso destino, para própria felicidade da espécie humana.

Entretanto, no Brasil, não se quer isto. Procura-se abafar as opiniões, para só deixar em campo os desejos dos poderosos e prepotentes.

Os órgãos de publicidade por onde se podiam elas revelar, são fechados e não aceitam nada que os possa lesar.

Dessa forma, quem, como eu nasceu pobre e não quer ceder uma linha da sua independência de espírito e inteligência, só tem que fazer elogios à Morte.

Ela é a grande libertadora que não recusa os seus benefícios a quem lhe pede. Ela nos resgata e nos leva à luz de Deus.

Sendo assim, eu a sagro, antes que ela me sagre na minha pobreza, na minha infelicidade, na minha desgraça e na minha honestidade.

Ao vencedor, as batatas!


Marginália - Lima Barreto (19-10-1918)


-------------------------------------------------------------------------------------------------

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lista epifânica

Eu vivo de momentos epifânicos, e esses momentos passam por fases que podem durar de semanas a meses. Hoje resolvi listar (aleatoriamente) o que tem me dado momentos epifânicos ultimamente:


* Ouvir Luiz Tatit/ Grupo Rumo e músicas do Cartola (sim, baixei músicas do mestre)

* A leitura de "Leite Derramado" do Chico Buarque (fantástico)

* Ir ao teatro com mais frequência (graças a Marília)

* Facebook (tô fuçando mais e gostanto)

* Twitter (isso realmente é viciante)

* Petiscos com amigos das antigas em casa (como é bom)

* Brincar, dançar, pular com minha sobrinha Beatriz (ser criança é muito bom)

* Butecos

* O filme de animação Mary e Max (em breve texto sobre ele aqui no blog)

* Glee (é engraçado)

* Leituras sobre a teoria da Comunicação (cedidas gentilmente pela Mari)

* Blogosfera (muita coisa boa)


Bom, por enquanto é isso, tenho certeza de que outra hora vou ler e ver que faltou alguma coisa, mas fazer o que? A vida é assim. Viva a epifânia. Viva a catarse. Viva as fases da Vida.

Por fim, a trilha da postagem de hoje - "O mundo é um moinho" do mestre Cartola:






quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Momento Epifânico: Pé de Nabo [Palavra Cantada]

O momento epifânico de hoje é uma delícia.

Acho que a maioria já ouviu alguma canção da Palavra Cantada, selo que foi criado em 1994 por Sandra Peres e Paulo Tatit com o intuito de moderlizar as canções infantis.

Abaixo, a discografia completa:

“Canções de Ninar” (1994); “Canções de Brincar” (1996); “Cantigas de Roda” (1998); “Canções Curiosas” (1998); “MilPássaros”(1999); “Noite Feliz” (1999); “Canções do Brasil” (2001); “Meu Neném” (2003); CD e DVD “Palavra Cantada 10 anos” (2004); DVD “Clipes da TV Cultura”; “Pé com Pé” (2005); DVD "Canções do Brasil" (2006); DVD "Pé com Pé"(2007); CD "Carnaval Palavra Cantada"(2008); "Palavra Cantada Tocada"(2008); "Canciones Curiosas - palabra cantada en español"(2008).

Para maiores informações a respeito acessem ao site Palavra Cantada:
http://www.palavracantada.com.br/final/index.aspx


Finalmente, o vídeo de uma das canções que eu mais gosto, na verdade é difícil escolher uma:




Beijo de Um ser sendo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Momento: Fala que eu te escuto

Nó na garganta

Vontade de gritar

...

Triste, não estou, não sou.

É que hoje foi um dia estranho, um dia que me senti peixe fora d'água, que olhei para dentro de mim e vi uma verdade que "outros" duvidaram, pensei: tenho certeza da minha verdade e logo vou comprovar, e, batata, a verdade veio à tona e eu agradeci a Deus, sou muito apegada a ele (isso é segredo/ novidade para muitas pessoas)... passou, página virada na hora, mas agora me deu um aperto, um mal estar, uma baixa estima que me cerca e as vezes/ sempre insiste em aparecer e eu precisei vomitar tolices no meu cantinho. Desculpe aos poucos leitores que passam por aqui querendo ler algo legal, ver/ ouvir indicações epifânicas, mas hoje é a cartase na sua pior forma, o muro das lamentações, porque preciso.

Enfim, como minha vida (em momentos bons ou ruins) sempre é guiada por uma trilha sonora, segue uma rock 'n' roll que eu adoro:


Eu também vou reclamar - Raul Seixas:




PS: Me senti geração Y ao extremo agora, adoro!

Beijo de Um ser sendo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crônica: Machado de Assis

Olá, personas...

Volto ao meu cantinho com uma preciosidade Machadiana que descobri em minhas 'andanças' na internet. Que Machado de Assis é um grande nome da nossa literatura todos sabem, mas as vezes deixam de se embebedar com sua obra, que é um deleite. Vale a pena ler a crônica abaixo, como também toda obra:


Crônica publicada no jornal Gazeta de Notícias, em 19 de maio de 1888.

Bons dias!
Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário fôr, que tôda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar.

Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.

No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as idéias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas idéias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado.

Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembléia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.

No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:

- Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que...
- Oh! meu senhô! fico.
- ...Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho dêste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...
- Artura não qué dizê nada, não, senhô...
- Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.
- Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.


Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Êle continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.

Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí pra cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe bêsta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas tôdas que êle recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.

O meu plano está feito; quero ser deputado,e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a tôda a gente que dêle teve notícia; que êsse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na terra, para satisfação do céu.

Boas noites.


Texto extraído do livro
Obra Completa, Vol III. Machado de Assis. 3ª edição. José Aguilar, Rio de Janeiro. 1973. p. 489 - 491.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

10° Feira do Livro de Ribeirão Preto











Olá personas...
Demorei mas retornei com o que prometi no último post: Comentários e fotos da 10° Feira do Livro 2010.

Mas, devo confessar que neste ano não fui uma frequentadora assídua como fui ano passado (recorde). Fui três dias em eventos fantásticos, memoráveis, e podem acreditar, valeu por todo evento.


Para começar, estive na abertura da feira para ver a ópera do Coral Minaz: Barbeiro de Sevilha. Lindo Lindo Lindo... Vozes incríveis, epifânia garantida, é incrível como a arte, em diversas formas, é comovente. Saindo do Theatro Pedro II, totalmente anestesiada, paro para esperar o show do Clube da Esquina (Flávio Venturine, Lô Borges, Milton Nascimento), foi coisa de louco esse show, literalmente, músicas maravilhosas como: Paisagem na Janela, Lilia, Canção da América, Maria Maria... preciosidades epifânicas. Mais um para a minha lista de shows top top.


Minha segunda visita à feira foi a mais esperada, confesso, também, estava ansiosa para ver/ escutar, novamente, o querido Luiz Tatit, querido sim, não me importo em chamar de querido pessoas que eu admiro. Primeiro ele falou um pouco sobre seus últimos livros, o mediador da fala do gênio não foi lá essas coisas, mas Tatit, com todo seu talento, soube nos admirar. Em seguida ele fez um show maravilhoso, no tom irônico/sarcástico/ingênuo de sempre. Foi tão, tão, mas tão...ai ai. Dá-lhe epifânia. Para fechar com chave de ouro, depois do show Luiz Tatit autografou nosso livro, nos abraçou, senti carinho por parte dele. Me comoveu. Inesquecível.


Meu último evento na feira foi o show da Zélia Duncan, mais uma vez eu preciso confessar, pausadamente, vagarozamente, resumidamente (acho digno advérbio) que me surpreendi com a Zélia. Sim, eu sempre gostei das músicas dela, sempre acompanhei o que ela lançava, mas nunca tinha ido a um show, e ver o artista ao vivo, na performance de palco, é outra coisa. A Zélia tem a voz linda, a banda é fantástica, todos simpáticos. Foi tudo na vida o show, além dos grandes sucessos dela, ela cantou também Cássia Eller, Luiz Tatit (vibrei), Renato Russo. Demais. Escrevo lembrando cada detalhe com um sorriso no canto da boca.

Epifânia... Epifânia... Epifânia...

O que seria de mim sem as diversas formas de arte e cultura?

Nada.


Beijo de um ser sendo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Nossa, faz tempo que não apareço aqui no meu cantinho.
Tirada toda a poeira e teias de aranha pela minha ausência, vamos recomeçar.
Aconteceram muitas coisas da minha última postagem para cá. Muitas novidades no mundo, na minha vida nem tanto, ainda espero algo inesperado e novo. Não passei no concurso do SESC, e eu estudei viu, me dediquei, respondi as questões com a convicção que daria certo, não deu, aí eu 'arrumei' desculpas do tipo: eram muitos candidatos, deram preferência a alguém relacionado a àrea de animação, mas o fato é que não era para ser mesmo, trabalhar com cultura continua sendo um sonho, como dizem por aí, o que tiver que ser será.
No mais, nos acontecimentos recentes, preciso comentar sobre os poucos eventos que fui na 10° Feira do Livro de Ribeirão Preto, poucos mas memoráveis, como: salão de ideias com o escritor Rubem Alves, salão de ideias e show com o incrível Luiz Tatit entre outros. No próximo post falarei sobre o evento, postarei fotos. Aguardem.
Outro acontecimento recente e triste foi a morte do escritor português José Saramago. Para os amantes da literatura fica um vazio, mas também fica o alívio de sua imortalidade no grande legado deixado por ele! Não tem jeito, Saramago é eterno.
No dia de sua morte (18/6), passei o dia postando frases do eterno Saramago no twitter:


"Nem sua vida nem sua morte cabem numa frase" [Luiz Schwarcz sobre o amigo Saramago] - http://migre.me/QcF4 #AdeusSaramago


O artista nunca diz adeus. Meu Saramago é imortal: http://mariliamarcucci.blogspot.com/

"Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo." [José Saramago] #AdeusSaramago

Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia. [José Saramago] #AdeusSaramago

Estranho saber que nós, amantes de literatura, perdemos Saramago... #AdeusSaramago

"...somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se ..." [Ensaio sobre a lucidez - Saramago] #AdeusSaramago

Adeus Saramago...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Teleco, o coelhinho - Murilo Rubião




Sempre quis postar este conto do Murilo Rubião aqui no meu cantinho.


Ele foi um dos objetos de estudo do meu saudoso tcc. Eu simplesmente sou fascinada pelo fantástico e pelas figuras deste conto. Para quem não leu, vale a pena ler, e para quem já leu sabe que vale a pela reler.


Beijo.


----------------------------------------------------------

Teleco, o coelhinho


Por* Murilo Rubião


- Moço, me dá um cigarro?
A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças.
O importuno pedinte insistia:
- Moço, oh! moço! Moço, me dá um cigarro?
Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei:
- Vá embora, moleque, senão chamo a polícia.
- Está bem, moço.Não se zangue. E, por favor, saia da minha frente, que eu também gosto de ver o mar.
Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
- Você não dá é porque não tem, não é, moço?
O seu jeito polido de dizer as coisas comoveu-me. Dei-lhe o cigarro e afastei-me para o lado, a fim de que melhor ele visse o oceano. Não fez nenhum gesto de agradecimento, mas já então conversávamos como velhos amigos. Ou, para ser mais exato, apenas o coelhinho falava. Contava-me acontecimentos extraordinários, aventuras tamanhas que o supus com mais idade do que realmente aparentava.
Ao fim da tarde, indaguei onde ele morava. Disse não ter morada certa. A rua era o seu pouso habitual. Foi nesse momento que reparei nos seus olhos. Olhos mansos e tristes. Deles me apiedei e convidei-o a residir comigo. A casa era grande e morava sozinho - acrescentei.
A explicação não o convenceu. Exigiu-me que revelasse minhas reais intenções:
- Por acaso, o senhor gosta de carne de coelho?
Não esperou pela resposta:
- Se gosta, pode procurar outro, porque a versatilidade é o meu fraco.
Dizendo isto, transformou-se numa girafa.
- À noite - prosseguiu - serei cobra ou pombo. Não lhe importará a companhia de alguém tão instável?
Respondi que não e fomos morar juntos.
Chamava-se Teleco.
Depois de uma convivência maior, descobri que a mania de metamorfosear-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar ao próximo. Gostava de ser gentil com crianças e velhos, divertindo-os com hábeis malabarismos ou prestando-lhes ajuda. O mesmo cavalo que, pela manhã, galopava com a gurizada, à tardinha, em lento caminhar, conduzia anciãos ou inválidos às suas casas.
Não simpatizava com alguns vizinhos, entre eles o agiota e suas irmãs, aos quais costumava aparecer sob a pele de leão ou tigre. Assustava-os mais para nos divertir que por maldade. As vítimas assim não entendiam e se queixavam à polícia, que perdia o tempo ouvindo as denúncias. Jamais encontraram em nossa residência, vasculhada de cima a baixo, outro animal além do coelhinho. Os investigadores irritavam-se com os queixosos e ameaçavam prendê-los.
Apenas uma vez tive medo de que as travessuras do meu irrequieto companheiro nos valessem sérias complicações. Estava recebendo uma das costumeiras visitas do delegado, quando Teleco, movido por imprudente malícia, transformou-se repentinamente em porco-do-mato. A mudança e o retorno ao primitivo estado foram bastante rápidas para que o homem tivesse tempo de gritar. Mal abrira a boca, horrorizado, novamente tinha diante de si um pacífico coelho:
- O senhor viu o que eu vi?
Respondi, forçando uma cara inocente, que nada vira de anormal.
O homem olhou-me desconfiado, alisou a barba e, sem despedir, ganhou a porta da rua.
A mim também pregava-me peças. Se encontrava vazia a casa, já sabia que ele estava escondido em algum canto, dissimulado em algum pequeno animal. Ou mesmo no meu corpo, sob a forma de pulga, fugindo-me dos dedos, correndo pelas minhas costas. Quando começava a me impacientar e pedia-lhe que parasse com a brincadeira, não raro levava tremendo susto. Debaixo das minhas pernas crescera um bode que, em disparada, me transportava até o quintal. Em me enraivecia, prometia-lhe uma boa surra. Simulando arrependimento, Teleco dirigia-me palavras afetuosas e logo fazíamos as pazes.
No mais, era o amigo dócil, que nos encantava com inesperadas mágicas. Amava as cores e muitas vezes surgia transmudado em ave que possuía todas e de espécie totalmente desconhecida ou de raça extinta.
- Não existe pássaro assim!
- Sei. Mas seria insípido disfarçar-me somente em animais conhecidos.
O primeiro atrito grave que tive com Teleco ocorreu com um ano após nos conhecermos. Eu regressava da casa da minha cunhada Emi, com quem discutira asperamente sobre negócias de família. Vinha mal-humorado e a cena que deparei, ao abrir a porta da entrada, agravou minha irritação. De mãos dadas, sentados no sofá da sala de visitas, encontravam-se uma jovem mulher e um mofino canguru. As roupas dele eram mal talhadas, seus olhos se escondiam por trás de uns óculos de metal ordinário.
- O que deseja a senhora com esse horrendo animal? - perguntei, aborrecido por ver minha casa invadida por estranhos.
- Eu sou Teleco - antecipou-se, dando uma risadinha.
Mirei com desprezo aquele bicho mesquinho, de pêlos ralos, a denunciar subserviência e torpeza. Nada nele me fazia lembrar o travesso coelhinho.
Neguei-me a aceitar como verdadeira a afirmação, pois Teleco não sofria da vista e se quisesse apresentar-se vestido teria o bom gosto de escolher outros trajes que não aqueles.
Ante a minha incredulidade, transformou-se numa perereca. Saltou por cima dos móveis, pulou no meu colo. Lancei-o longe, cheio de asco.
Retomando a forma de canguru, inquiriu-me, com um ar bastante grave:
- Basta esta prova?
- Basta. E daí? O que você quer?
- De hoje em dia serei apenas homem.
- Homem? - indaquei atônito. Não resisti ao ridículo da situação e dei uma gargalhada:
- E isso? - apontei para a mulher. - É uma lagartixa ou um filhote de salamandra?
Ela me olhou com raiva. Quis retrucar, porém ele atalhou:
- É Tereza. Veio morar conosco. Não é linda?
Sem dúvida, linda. Durante a noite, na qual me faltou o sono, meus pensamentos giravam em torno dela e da cretinice de Teleco em afirmar-se homem.
Levantei-me de madrugada e me dirigi à sala, na expectativa de que os fatos do dia anterior não passassem de mais um dos gracejos do meu companheiro.
Enganava-me. Deitado ao lado da moço, no tapete do assoalho, o canguru ressonava alto. Acordei-o, puxando-o pelos braços:
- Vamos, Teleco, chega de trapaça.
Abriu os olhos, assustado, mas, ao reconhecer-me, sorriu:
- Teleco?! Meu nome é Barbosa, Antônio Barbosa, não é, Tereza?
Ela, que acabara de despertar, assentiu, movendo a cabeça.
Explodi, encolerizado:
- Se é Barbosa, rua! E não me ponha mais os pés aqui, filho de um rato!
Desceram-lhe as lágrimas pelo rosto e, ajoelhado, na minha frente, acariciava minhas pernas, pedindo-me que não o expulsasse de casa, pelo menos enquanto procurava emprego.
Embora encarasse com ceticismo a possibilidade de empregar-se um canguru, seu pranto demoveu-me da decisão anterior, ou, para dizer a verdade toda, fui persuadido pelo olhar súplice de Tereza que, apreensiva, acompanhava o nosso diálogo.
Barbosa tinha hábitos horríveis. Amiúde cuspia no chão e raramente tomava banho, não obstante a extrema vaidade que o impelia a ficar horas e horas diante do espelho. Utilizava-se do meu aparelho de barbear, de minha escova de dentes e pouco serviu comprar-lhe esses objetos, pois continuou a usar os meus e os dele. Se me queixava do abuso, desculpava-se, alegando distração.
Também a sua figura tosca me repugnava. A pele era gordurosa, os membros curtos, a alma dissimulada. Não media esforços para me agradar, contando-me anedotas sem graça, exagerando nos elogios à minha pessoa.
Por outro lado, custava tolerar suas mentiras e, às refeições, a sua maneira ruidosa de comer, enchendo a boca de comida com o auxílio das mãos.
Talvez por ter-me abandonado aos encantos de Tereza, ou para não desagradá-la, o certo é que aceitava, sem protesto, a presença incômoda de Barbosa.
Se afirmava ser tolice de Teleco querer nos impor a sua falsa condição humana, ela me respondia com uma convicção desconcertante:
- Ele se chama Barbosa e é um homem.
O canguru percebeu o meu interesse pela sua companheira e, confundindo a minha tolerância como possível fraqueza, tornou-se atrevido e zombava de mim quando o recriminava por vestir minhas roupas, fumar dos meus cigarros ou subtrair dinheiro do meu bolso.
Em diversas ocasiões, apelei para a sua frouxa sensibilidade, pedindo-lhe que voltasse a ser coelho.
- Voltar a ser coelho? Nunca fui bicho. Nem sei de quem você fala.
- Falo de um coelhinho cinzento e meigo, que costumava se transformar em outros animais.
Nesse meio tempo, meu amor por Tereza oscilava por entre pensamentos sombrios, e tinha pouca esperança de ser correspondido. Mesmo na incerteza, decidi propor-lhe casamento.
Fria, sem rodeios, ela encerrou o assunto:
- A sua proposta é menos generosa do que você imagina. Ele vale muito mais.
As palavras usadas para recusar-me convenceram-me de que ela pensava explorar de modo suspeito as habilidades de Teleco.
Frustrada a tentativa do noivado, não podia vê-los juntos e íntimos, sem assumir uma atitude agressiva.
O canguru notou a mudança no meu comportamento e evitava os lugares onde me pudesse encontrar.
Uma tarde, voltando do trabalho, minha atenção foi alertada para um som ensurdecedor da eletrola, ligada com todo volume. Logo ao abrir a porta, senti o sangue a afluir-me à cabeça: Tereza e Barbosa, os rostos colados, dançavam um samba indecente.
Indignado, separei-os. Agarrei o canguru pela gola e, sacudindo-o com violência, apontava-lhe o espelho da sala:
- É ou não é um animal?
- Não, sou um homem! - E soluçava, esperneando, transido de medo pela fúria que via nos meus olhos.
À Tereza, que acudira, ouvindo seus gritos, pedia:
- Não sou um homem, querida? Fala com ele:
- Sim, amor, você é um homem.
Por mais absurdo que me parecesse, havia uma trágica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porém. Joguei Barbosa no chão e lhe esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os.
Ainda na rua, muito excitada, ela me advertiu:
- Farei de Barbosa um homem importante, seu porcaria!
Foi a última vez que os vi. Tive, mais tarde, vagas notícias de um mágico chamado Barbosa a fazer sucesso na cidade. À falta de maiores esclarecimentos, acreditei ser mera coincidência de nomes.
A minha paixão por Tereza se esfumara no tempo e voltara-me o interesse pelos selos. As horas disponíveis eu as ocupava com a coleção.
Estava, uma noite, precisamente colando exemplares raros recebidos na véspera, quando saltou, janela adentro, um cachorro. Refeito do susto, fiz menção de correr o animal. Todavia, não cheguei a enxotá-lo.
- Sou o Teleco, seu amigo - afirmou, com uma voz excessivamente trêmula e triste, transformando-se em uma cotia.
- E ela? - perguntei com simulada displicência.
- Tereza … - sem que concluísse a frase, adquiriu as formas de um pavão.
- Havia muitas cores … o circo … ela estava linda … foi horrível … - prosseguiu, chocalhando os guizos de uma cascavel.
Seguiu-se breve silêncio, antes que voltasse a falar:
- O uniforme … muito branco … cinco cordas … amanhã serei homem … - as palavras saíam-lhe espremidas, sem nexo, à medida que Teleco se metamorfoseava em outros animais.
Por um momento, ficou a tossir. Uma tosse nervosa. Fraca, a princípio, ela avultava com as mutações dele em bichos maiores, enquanto eu lhe suplicava que se aquietasse. Contudo ele não conseguia controlar-se.
Debalde tentava exprimir-se. Os períodos saltavam curtos e confusos.
- Pare com isso e fale mais calmo - insistia eu, impaciente com as suas contínuas transformações.
- Não posso - tartamudeava, sob a pele de um lagarto.
Alguns dias transcorridos, perdurava o mesmo caos. Pelos cantos, a tremer, Teleco se lamuriava, transformando-se seguidamente em animais os mais variados. Gaguejava muito e não podia alimentar-se, pois a boca, crescendo e diminuindo, conforme o bicho que encarnava na hora, nem sempre combinava com o tamanho do alimento. Dos seus olhos, então, escorriam lágrimas que, pequenas nos olhos miúdos de um rato, ficavam enormes na face de um hipopótamo.
Ante a minha impotência em diminuir-lhe o sofrimento, abraçava-me a ele, chorando. O seu corpo, porém, crescia nos meus braços, atirando-me de encontro à parede.
Não mais falava: mugia, crocitava, zurrava, guinchava, bramia, trissava.
Por fim, já menos intranquilo, limitava as suas transformações a pequenos animais, até que se fixou na forma de um carneirinho, a balir tristemente. Colhi-o nas mãos e senti que seu corpo ardia em febre, transpirava.
Na última noite, apenas estremecia de leve e, aos poucos, se aquietou. Cansado pela longa vigília, cerrei os olhos e adormeci. Ao acordar, percebi que uma coisa se transformara no meus braços. No meu colo estava uma criança encardida, sem dentes. Morta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Across the Universe - o filme


Boa noite personas, olha eu aqui prestes a postar mais um momento epifânico.

Acabei de assistir ao filme Across the Universe (2007), um musical ambientado nos anos 60, em meio à guerra do Vietnã, aos movimentos hippie e de contra-cultura, e, detalhe: só com canções de nada mais e nada menos dos The Beatles. Só por causa de tudo issoo filme já tem o seu valor não é mesmo?

Mas a história, o jogo de cena, a originalidade nas melodias e as letras intactas dos The Beatles faz do filme uma delícia de ser visto. Os personagens principais são Lucy e Jude (reconheceram os nomes, né?), que se conhecem a partir do momento em que Jude, que é de Liverpool, vai morar nos Estados Unidos.

Em terras americanas, Jude conhece e fica amigo de Max (irmão de Lucy), através dessa amizade Jude se apaixona por Lucy, mas em meio à confusão que parte do mundo vive naquele momento, várias disjunções acabam acontecendo para que no fim... ahhh eu não vou contar né! Tem que ver, vale apena.

A história, assim, resumida pode ser um tanto quanto água com açúcar, mas eu super recomendo.

Para vocês contarem com mais alguma credibilidade em relação ao filme, ele foi dirigido por Julie Taymor, premiada por seus trabalhos em Frida e na adaptação de O Rei Leão para a Broadway. Essa é a chave da questão, quem viu Frida sabe do que estou falando, pensem em cores, escuridão e beleza juntos, o filme tem tudo isso.

O elenco conta com jovens talentosos e bonitos, entre eles uma participação especial de Bono Vox na pele de um hippie. É imperdível!

Acho que deu para deixar vocês na vontade.

Mas... para garantir, vou postar uma cena musical bem linda do filme: Jude cantando Straberry Fields Forover.

Deleitem-se:

sábado, 20 de março de 2010

Encantada com Palavra [En]Cantada


Sexta/Sábado, 0h50, acabei de assistir o documentário Palavra [En]cantada e tive um super momento Epifânico.

Como é bom e gratificande ver um dvd de músicos, linguistas e poetas que adoro todos juntos. Nem nos meus sonhos mais profundos pensei em ver algo assim. A junção de Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Luiz Tatit, Maria Bethania, Tom Zé, Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, entre outros, debatendo sobre a construção do fazer poético e musical me deixou anestesiada, e apesar de não estar em um momento sóbrio adequado para um post, tinha que entrar aqui para desabafar, já que minhas companheiras de viagens culturais/ literárias (Marilisa, Marília e Tamires) não estão por perto.


Ver Chico rindo de sua composição de Choro Bandido; Tom Zé (sempre exagerado e belo) caracterizando sua primeira impressão de Dorival Caymmi; Caetano, na época de Alegria Alegria, tentando explicar a modernidade de sua composição e definindo a cultura pop e massificada da época; Lenine quase aos prantos por causa das variações fonéticas de nossa lingua; e perceber que hoje muitos seguem o sempre novo e inesquecível Tropicalismo não tem explicação. É extraordinário.

Para quem se indentifica com música, arte e literatura, Palavra [En]cantada é obrigatório.

Recomento para vida.

Amanhã vai ter repeteco, certeza que vou assistir novamente, só que mais sóbria e com um caderninho e caneta na mão, pois o documentário é uma verdadeira aula de cultura e história brasileira.

Vou ficando por aqui personas.

Já escrevi demais para quem está embriagada de conhecimento e outras cositas mais.

Até um próximo post galera.

Beijo de Um ser sendo em estado de extase.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Momento Epifânico: Esboço [Luiz Tatit]

No último fim de semana (21/22 de fevereiro) estive em São Paulo. Fiz zilhões de coisas em um curto espaço de tempo e deu tudo certo.
Foi ótimo como era de se esperar. Eu sai, vi meus parentes e respirei um pouco da cultura da cidade, que sempre me faz um bem danado.
Por incrível que pareça, ou não, eu só pensava na canção 'Esboço' do Luiz Tatit. Em cada bairro que eu passava eu cantarolava. E é por essa razão que o Momento Epifânico de hoje será em homenagem ao fim de semana em São Paulo e ao incrível compositor, linguista, professor e músico Luiz Tatit.
Deleitem-se:



Esboço

Cara de palhaço
Pinta de boneco
Pula o tempo todo
Não dá nem uma parada
Parece até ligado
Na tomada
Todo emocionado
Com a própria brincadeira
Qualquer coisinha cai
Na choradeira

Uns dizem que é homem
Outros que é mulher
Dizem que é velho
Por isso pinta a cara
Pinta porque é moço
Pinta porque é velho
Pinta porque é macho
Pinta por capricho
Não é por nada disso
Não é homem, não é mulher
Ele é um bicho

E ele passeia, passeia
Passeia como se fosse um turista
E cumprimenta todo mundo
Que freqüenta a Bela Vista
E mesmo que ele esteja sem dinheiro
Dá uma passadinha nos botecos de Pinheiros
Chega com uma cara que dá pena
Mas é gente muito boa
Lá da Vila Madalena
Sempre sobra um copo de cerveja
Fica tão contente
Mas não quer que ninguém veja
Então procura o centro da cidade
Na Liberdade
Lá ele aparece algumas vezes
Lá os seus amigos são chineses
Canta umas canções em pot-pourri
E o pessoal morre de rir
E no fim da noite
Dá o último giro
No Bom Retiro

Meio delirante
Meio inconseqüente
Muito colorido
Um destaque na paisagem
É todo uma figura
Um personagem
Não adianta perder tempo
Desprezando a sua imagem
Pois nunca ele ligou
Pra essas bobagens

Corpo de moleque
Corpo de borracha
Todo amolecido
Dobra tudo
Nada racha
Dizem que é um esboço
Que é alguém de carne e osso
Dizem que é um colosso
Por dentro e por fora
É gente como a gente
A gente sente
Pois se aperta ela chora

E ele vagueia, vagueia
Vagueia como se fosse um cachorro
Avança, volta um pouco
Chegando até Socorro
Lá ele não conhece muita gente
Então pega a Marginal, o Jóquei Clube
E segue em frente
Gosta de entrar um pouco na USP
Gosta de sentir que é estudante
Mesmo que não estude ele embroma
Com tanta perfeição
Que sempre sai com um diploma
E vem pra casa então todo feliz
Em Vila Beatriz
Tem os seus horários de paquera
Tem o seu lugar no Ibirapuera
Tem o seu amor em Santo Amaro
Que ele encontra pelo faro
E tem um gosto muito próprio
E muito raro

Balança a cabeça
Mexe o coração
Passa pela Penha
Pela Lapa, pelo Brás
E já não sabe bem mais
O que faz
Todo envergonhado
Quando encontra uma criança
Perde o rebolado
Sempre dança

Tido como louco
Fala muito pouco
Pula, gesticula
Flexível, inquebrável
Vai ver que ele é amável
Vai ver, é provável
Vai ver que ele é uma fera
Vai ver que ele devora
Vai ver que cê chegando
Bem pertinho, dando um sopro
Ele evapora.

Música:




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um pouco do muito da teoria da Cultura

Nos últimos meses entrei de cabeça nos estudos, para ser mais específica, entrei com tudo no estudo da teoria da cultura e sociologia, me deu na teia de saber mais sobre algo que gosto tanto, que literalmente falando faz a minha felicidade enquanto ser sendo.

E tenho que confessar que está sendo fantástico. Cultura é tudo, pode até parecer um conceito fácil e piegas, mas a complexidade do signicado é ampla. Tudo que envolve uma socidade é cultura.

E por envolver uma socidade e seus costumes ela nos faz ser tão iguais e tão diferentes dentro de uma cultura compartilhada, e ao compartilharmos ideias (diferentes ou não), princípios, gostos culturais nos tornamos uma sociedade.

Pensar em cada aspecto dessa teoria abre um leque de reflexões: a cultura é culmulativa, passa por gerações, ela vive em constante inovação, até hoje nos baseamos, estudamos e pensamos em escritores como Platão e Aristóteles, nos encantamos e aprendemos com as tragédias e lendas gregas etc. Podemos ter como exemplo também todo o meio pragmático, como por exemplo a tecnologia; nos anos 90 usavamos celulares enormes e com pouca funcionalidade, com o constante estudo de especialistas o celular, o computador estão cada vez menores e avançados.

A cultura engloba desde crenças e valores, regras (leis) e moral (mores) de uma sociedade, passa pela criação intelectual, língua falada e vai até aos patrimônios históricos. Cultura: uma única palavra, muitos significados.

Na história e na atualidade da teoria da cultura há o relativismo cultural, ligado ao respeito a uma cultura diferente da nossa, por causa de preconceitos desse tipo (etnocentrismo), muitas civilizações antigas, junto com seus contumes, desapareceram. Quando nos deparamos com outra sociedade a diferença é a principal característica que temos em comum, e isso é e deve ser visto como algo fascinante.

O conceito de diversidade cultural é tão importante que a UNESCO, em 2001, publicou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultura.
É preciso ter respeito pelo diferente. Há sempre o que aprender com o desconhecido.
Outra característica atual e importante a ser analisada na teoria cultural é a cultura de massa. A indústria cultural, com a ajuda da TV e do rádio, fez a cultura massificada ganhar força sobre a cultura popular, um exemplo clássico de massificação é a música sertaneja, antes parte de uma cultura e valores, hoje o que mais existe são duplas sertanejas, com músicas empolgantes e iguais, quase não diferenciamos uma dupla de outra. Outro exemplo de massificação são ritmos, bandas, best sellers que explodem em uma determinada época e depois ninguém mais se lembra. É claro que apesar da força da cultura massificada, a cultura popular ainda existe em todo o Brasil e no mundo, diferente em determinada região, e é disso que não podemos nos esquecer.
Há tanto o que escrever e debater sobre a cultura, como já disse anteriormente, ela é ampla e complexa. A cultura está na sociologia, literatura, artes, história etc, levando a manifestações culturais de todos os tipo. É através dela que nos conhecemos e reconhecemos no outro, que entendemos nossa formação, nosso modo de pensar, nossas escolhas (boas ou más). Proponho que demos uma atenção maior a essa teoria, para entendermos e moldarmos cada vez melhor nosso modo de ser e viver.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Para minha amiga Mariana




Querida Mariana.


É muito difícil escrever um post para quem a gente ama e convive, mas hoje sinto que é necessário.


Ontem foi seu dia, seu aniversário, fazer 22 anos é tão gostoso, queria tanto ter te visto amiga.


Hoje sei que não é um bom dia para você, fique sabendo que para mim não está sendo também, mas tenho muita fé de que as coisas vão se resolver, independente do que for acontecer, acredito em você e em sua capacidade de fazer as coisas acontecerem.


Em sua homenagem postarei um vídeo da canção Sunday Smile do Beirut (a nossa banda gringa querida) com cenas do diretor Moacyr Góes espero que goste.








Um beijo grande.



Te adoro muito.



Marcela.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Momento Epifânico: Valsa para uma menininha

Depois do desabafo frio e pesado no último post, hoje publicarei um momento epifânico lindo e poético para acalmar os ânimos.
Valsa para uma menininha pode ser considerada uma canção de ninar, com a voz doce e suave de Toquinho e toda a poeticidade de Vinicius.
E eu, tia totalmente coruja da Beatriz, dedico a ela esta canção:
Valsa para uma menininha
[Vinicius de Moraes e Toquinho]


Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão

Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão

Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
E também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei

Música:



terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pronto falei - parte II


Não tem nada mais insuportável e deprimente para mim do que uma pessoa triste, constantemente deprimida e desanimada.


Tudo bem que uma pessoa assim deve ter 1512 problemas internos para ser assim, mas também não fazer nada para se ajudar é brincadeira não é não?


Sinceramente, eu prefiro, sem dúvida nenhuma, manter distância de gente assim, por mais amigo (a) que foi ou seja não insisto para sair comigo não.


E o que mais me irrita nisso tudo é que essas pessoas acham que é o centro das atenções, e com certeza ficam felizes em achar que estamos chatiadas com elas pelo falo de serem triste e não querer nos acompanhar quando saimos para nos divertir. Complicado entender. Complicado explicar.


Pessoas que não querem sair comigo por serem tristes ou sei lá o que, fiquem sabendo que eu não estou nem aí com a passoquinha, fico é com raiva se vocês acharem que eu, em algum momento fico triste ou pensando coisas com isso...até parece!


Se quer ir bem. Se não amém.


Tenho meus problemas também, meus momentos de ser sozinha, mas isso não é uma constante na minha vida. Não quero isso.




Pronto falei.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Momento Epifânico (aniversário): A mais bonita - Chico Buarque

Agora são 23h45, daqui a pouco é meu aniversário e estou aqui no meu cantinho para comemorar!

(Detalhe: estou em frente ao computador com uma latinha de Crystal e com os olhos vermelhos de sono, é que amanhã é feriado santo em RP)

Já que o dia é todo meu, nada mais justo que minha música esteja aqui, em um momento epifânico.

Para quem não sabe, minha música é 'A mais bonita' do Chico Buarque.

Toda vez que a escuto, posso estar levemente bebada ou extremamente sóbria, eu me emociono, profundamente (viva o adverbio né?)

(Detalhe 2: Já sonhei que eu cantava essa música para o próprio Chico, juro! Foi o melhor sonho da minha vida, acordei com raiva de tudo ter sido mera ilusão, só sei que no sonho, enquanto eu cantava eu também chorava, mais chorava, rs)

Chega de blá blá blá e vamos ao que interessa.

Primeiro toda a poesia da letra:


A mais bonita

Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar

Bonita
Pra que os olhos do meu bem
Não olhem mais ninguém
Quando eu me revelar
Da forma mais bonita
Pra saber como levar todos
Os desejos que ele tem
Ao me ver passar
Bonita
Hoje eu arrasei
Na casa de espelhos
Espalho os meus rostos
E finjo que finjo que finjo
Que não sei


Agora a música com Bebel Gilberto e Chico Buarque:



Demais, né!?

É tão lindo que dói. Dói muito. Essa é a melhor dor que existe. Sem dúvida nenhuma.

Viva meus 24 anos. Viva.

Beijo de Um ser sendo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pronto falei

Acabei de fazer uma coisa muito pragmática e fiquei com o coração apertado.
Não pelo fato dessa coisa ser errada, pelo contrário, é uma coisa tão certa, mas acho que o modo como fiz não foi sincera ao meu jeito de ser, entendem?
Calma, não passei por cima de ninguém nem nada, na verdade eu pedi autorização de um escritor para usar sua crônica no info deste mês, mas gente, o e-mail que enviei foi tão tão tão... sei lá sabe?
?????
Acho que tô é com medo da resposta isso sim.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Chomsky e as 10 estratégias de manipulação da elite

Li este texto no Blog de Luis Nassif e decidi publicar aqui.
Vale apena ler e reler as 10 estratégias de manipulação da elite, segundo Noam Chomsky:



1- A estratégica da distração.


O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

2- Criar problemas, depois oferecer soluções.


Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.


Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em “degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

4- A estratégica do deferido.


Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.


A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que?
“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.


Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.


Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.


Promover ao público a achar “cool” pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.


Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.


No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Obrigada, obrigada, obrigada.

Não poderia deixar de agradecer as pessoas que fizeram de 2009 um ano tão especial.

Nome para 2009: realização.

Primeiramente, eu devo agradecer a Deus, que em 2009 me deu oportunidades para mais aprendizados e a possibilidade de contar com pessoas maravilhosas, com as quais pude conviver e confiar.

Agradeço aos meus pais, por todo apoio, que sempre foi fundamental em todos os anos da minha vida; obrigada a toda minha família maravilhosa sempre presente.

Ao Fábio, meu amor, que esteve mais que presente em todos os objetivos alcançados em 2009, obrigada meu amor.

Às minhas amigas, em especial, Mariana e Helena, pessoas que não me abandonaram e ficaram ao meu lado em cada decisão tomada, obrigada por cada passeio, por cada segredo confiado.

Obrigada também às minhas amigas do trabalho: Tamires, Marília, Nilva, Vanessa e Lilian; pessoas especiais, minha segunda família. Meninas, sem vocês 2009 seria muito mais difícil, com certeza.

Agradeço também às amigas que a gente quase não vê, mas que estão presentes no coração, sempre: Priscila, obrigada pelos lindos poemas que você me deixou publicar no MS News; Amanda, apesar da distância, sempre presente; Claudinha, especial demais; Marilisa, pessoa de luz; Juliana, amiga gringa, volta logo.


Sem dúvida nenhuma sou uma mulher de sorte.

Meu coração sorri cada vez que lembro dessas pessoas. Obrigada por existirem.

Cada dia que passa eu tenho mais certeza de que o acaso e o destino são amigos do meu coração.

Um beijo de Um ser sendo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Essa infinita Highway...

Dominada por um sentimento nostálgico, eis-me aqui para um balanço geral do que tem sido minha vida nos últimos anos. No dias das crianças falei bastante da minha infância, do que gostava etc, nesta postagem apenas acontecimentos recentes... ou nem tanto.


De 2000 para 2009 parece que foi um pulo, aconteceram mudanças boas outras necessárias; chorei, ri, chorei dinovo e ri muito mais, fui traída por uma pessoa que eu amava do fundo do meu coração, hoje sei que estou muito melhor sem ela em minha vida, perdi entes que serão para sempre queridos, mas em compensação ganhei pessoas lindas na minha vida. Enfim, as coisas acontecem sempre por um motivo, nada é por acaso, piegas mas fato.


Voltando ao passado, lembro que na virada de 1999 para 2000 eu estudava o ensino fundamental na escola estadual Santos Dumont, lá diziam que os computadores do mundo dariam panê, que engraçado, a expectativa para algo extraordinário acontecer era tanta que nada aconteceu. Para mim aconteceu de me apaixonar por um moço, cujo apelido era Teta, aliás, as paixões platônicas eram tantas nessa fase da minha vida que se eu lembro desse é porque de alguma forma marcou, afinal de contas minha aptidão para escrever coisas sentimentalóides foi por causa dessa fase.

Do ensino fundamental para o médio foi um pitaquinho de nada, fiz os três anos na escola estadual Tomas Alberto Whately, conheci amigos de fé, amizades essas que só duraram os 3 anos, salvo exceções né Claudinha?


Eu tenho que confessar que fui uma adolecente bem comportada, não me arriscava em paixões concretas, gostava das platônicas, não ia em festas loucas, afastava amizades perigosas etc. Enquanto pessoas da minha idade namoravam e aprontavam mais que tudo, eu simplesmente cultivava amigos e me aventurava em cursos de teatro, como eu tinha muita insegurança, fazia das amizades o sentido da vida.


Foi nessa fase que tomei meu primeiro porre, eu era comportada mas nem tanto, fui para Porto Seguro com a turma do 3° colegial e lá dancei muito axé, bebi capeta, caipinha, dancei lambada. Hoje nem sei quais são os hits do axé, mas naquela época eu sabia, quando voltei reunia meus amigos da escola e da visinhança para dançarmos axé em casa, hoje parece surreal eu dançando axé, mas se eu tiver que ir numa festa danço o que for, porque na vida o bom é ser feliz e mais nada.


Em 2005 veio a faculdade, optei por Letras pelo simples fato de gostar de inglês e um pouquinho de literatura. Nessa época minha mente se abriu para novas possibilidades, novos sons, mares nunca dantes navegados; lembro que no primeiro dia de aula a coordenadora do curso, Naiá, disse que depois de passar por lá um simples ou grandioso quadro, um romance ou best seller, uma canção, revista, telejornal, filme etc, tudo isso seria visto por nós com outros olhos e nada, nada mais seria como antes, pensei, que bobagem, pois foi a bobagem mais verdadeira da minha vida, sem dúvida nenhuma o curso de Letras foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Mudei meu jeito de pensar, os gostos musicais, me apaixonei pela literatura de um jeito que eu jamais poderia imaginar. Além da paixão pela literatura, conheci também a paixão pelo Fábio, hoje, o amor da minha vida. Sem dúvida nenhuma, essa foi uma das fases de maiores descubertas e aprendizados. Inesquecível!


Depois da formatura, em dezembro de 2007, E agora José?


Pois é, e agora? Mandei currículos para todos os lugares imagináveis: escolas, empresas de telemarketing, dei umas aulinhas, oh fase viu, descobri que estava em um beco e a saída só chegou em setembro de 2008 com a ligação inesperada da Marília, naquela época apenas conhecida das reuniões de estudos semióticos, ela me chamou para trabalhar com ela na Moore Stephens Prisma, para auxiliar na revisão de texto, assessorar diretores, enfim, estou na empresa até hoje, um pouco mais de 1 ano, durante esse ano aprendi muito a parte prática da língua portuguesa, foi bom, pois na faculdade a literatura predominava nos meus estudos, aqui tive/ tenho que correr atrás, estar aqui é um constante aprendizado, e aprender, cai entre nós, é a graça da vida.


Daqui pra frente continuo na minha velha e infinita highway, um ser sendo, sempre em busca de sentido (ou não) da vida!


Beijo.



Feliz 2010

Hoje quando cheguei ao trabalho ouvi a seguinte frase:

"2010 parece uma continuação de 2009, não parece novo"

Pois é.

Percebi a mesma coisa, esse sentimento faz parte de mim também.

Será que é porque está muito do começo ainda?

Não sei.

Só sei que existiram começos mais novos que 2010.

Quem sabe depois do carnaval isso muda.