sexta-feira, 13 de setembro de 2013

sobre Daquele Instante em Diante




 “Meu nome é

Benedito João dos Santos Silva Beleléu

Vulgo Nego Dito, Nego Dito cascavé”


Itamar Assumpção



Há dois anos escrevi sobre Itamar Assumpção aqui no blog, numa postagem intitulada Itamar Assumpção, o “maldito” da MPB”. E se tem alguma coisa que eu mudaria nesse texto, seria o título. Isso porque assisti ao documentário do Rogério Velloso, Daquele Instante em Diante, sobre a vida do Nego Dito, e descobri que o apelido de maldito não o agradava, e com razão, pois ninguém merece ser “maldito” simplesmente por não querer ser o que os representantes da grande indústria de música determinava e fazer diferente o que a maioria fazia igual. E ele fazia de um jeito tão cênico, inteligente. 


Daquele Instante em Diante emociona e fascina, porque além das imagens de shows inéditos e de um Itamar inconformado e inquieto com a atualidade em que vivia à época, podemos ver, também, entre o preparo de um cafezinho e outro (dá até para sentir o aroma assistindo ao filme) depoimentos sinceros e saudosos de amigos e companheiros de jornada, entre eles Luiz Tatit, Arrigo Barnabé, Alice Ruiz, Suzana Salles entre muitos outros, e também declarações comoventes da sua esposa Zena e das filhas Serena e Anelis, tudo tão sincero e delicado, na medida certa para nos encantar.


Vale a pena conferir para conhecer melhor a trajetória do grande artista Itamar Assumpção, o Nego Dito, que deixou sua marca no cenário musical brasileiro tão lindamente. 


Recomendo a obra de Itamar para vida.



Assista o trailler do filme Daquele Instante em Diante abaixo. Para assistir ao filme na íntegra Clique aqui! Vale a pena:


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Tanto que falta para ficar ok


Ilustração Tulipa Ruiz


“Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingi-la.”
Salvador Dali




Numa dessas noites de sábado que fiquei em casa, parei para assistir ao programa Ensaio, da TV Cultura, com a participação da cantora e compositora Tulipa Ruiz (assista aqui) para minha sorte e deleite. Ela é maravilhosa.


E em uma de suas falas, mais precisamente antes da canção OK, do álbum Tudo Tanto, ela contou sua inspiração para a composição dela, que foi baseada na história de seus avós. Sua avó, sempre na expectativa de agradar seu avô, perguntava ao marido se ela estava fazendo tudo certo, no que ele respondia: “só falta um pouquinho para você ser perfeita”, ou seja, sempre no quase lá, o que a deixava levemente frustrada, para não dizer furiosa. Apesar dessa frustração da avó, Tulipa achava a história divertida e a colocou num contexto musical, que ficou incrível.


Eu já gostava dessa música, depois dessa pequena história da Tulipa no programa, eu passei a gostar ainda mais, pois me fez pensar e refletir.


E pensando, cheguei à conclusão de que tem um pouquinho da avó da Tulipa em cada um de nós, que é o de querer fazer sempre tudo certinho e perfeito, mas como seres humanos, por vezes tortos que somos, não conseguimos sempre acertar, mas acredito, sinceramente, que a gente vive para tentar, a cada dia, fazer nosso melhor.


O sujeito da canção Ok ultrapassa um pouco o limite entre agradar os outros e a si mesmo, pois vive sendo o que não é para agradar o próximo e ter tudo o que deseja. Viver sendo o que os outros esperam de você, dizer sim a tudo quando na verdade a vontade é dizer não entre outras coisas, penso que é como morrer um pouco a cada dia. Nos dias de hoje, pelo pragmatismo que por vezes nos agride, pode ser difícil, mas é preciso, sim, ser de verdade, agir de verdade, acreditar que você é boa/bom de verdade, mesmo que o mundo diz o contrário. Pois, muitas vezes o inferno são os outros, e isso também é uma verdade.



OK

Tudo pra ser

Aquilo tudo que todo mundo espera

Todo um perfil

Aquele jeito que todo mundo gosta

Tudo pra ter

Tudo

Um jeito que agrada todos

Muito pra ver

O que te falta o que todo mundo espera

Está por um fio

Aquela cara que a gente mais venera

Pode apostar

Tudo

Num jeito de arrumar

Tudo

Tudo afiado na ponta da língua

Tudo decorado de cabeça

Você permanece muito combinado, calculado

Mesmo sem medida

Tudo

Tanto que falta

Para chegar no ponto

Tanto que falta para ficar ok



sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Antiperipléia



Elenco Cia Nuvem da Noite (Antiperipléia)

Estive no Ribeirão Em Cena para assistir Antiperipléia, peça baseada em duas obras de Guimarães Rosa, adaptadas por Gilson Filho, com direção de Renato Ferreira, e em meio à narrativa de noivas cegas intervendo no percurso do Augusto Matraga (“A hora e vez de Augusto Matraga”) e Soropita (“Dão-lalalão – O Devente”), posso afirmar que vivi, em uma hora e dez de espetáculo, uma catarse inesperada.


Inesperada, pois antes de ir prestigiar a peça, me preparei para encontrar a dificuldade na linguagem de Guimarães Rosa. Imaginava, sim, algo espetacular, porém, com suas limitações. Trabalhei mente, olhos e ouvidos, todos os sentidos, para que eu pudesse sentir Antiperipléia. 


Mas, eu me surpreendi euforicamente desde o primeiro apagar de luz. Apagar de luz porque ao adentrar ao teatro para me acomodar, os atores, já travestidos, estavam em suas marcações. Tudo começa quando se apaga, e esse apagar já provocou em mim as melhores sensações, anteriormente aguçadas. O que esperar?


Noivas Cegas. Corpos. Performance. Vozes. Batuque. Tudo ali no palco. 


Linguagem. E para minha surpresa, um Guimarães Rosa popular na prática. Compreensivo. Inimaginável.


A proximidade sentida desse ambiente surreal, fantasmagórico, é movida pelas paixões dos sujeitos, que cometem atitudes fortemente identificadas, sujeitos possíveis, tudo trabalhado magistralmente. Não tem como não se reconhecer no palco. Sim, catarse na sua forma mais explícita.


Ontem pude constatar, ver para crer, em Antiperipléia, que Guimarães contou o que somos. Guimarães nos representa.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

a Marisar



 Capa CD Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão (1994)

Motivada pelo pocket show Marisar do Projeto Madalena, que aconteceu dias atrás na Fnac Ribeirão Preto, juntamente com a exposição fotográfica da Sté Frateschi, e que acontecerá novamente no dia 28/8 às 19h30, fica a dica, eu voltei a escutar Marisa Monte quase que diariamente. 

Com isso eu me recordei do meu primeiro contato com o saber gostar das músicas da Marisa Monte. Foi aos 13 anos, com as minhas primas mais velhas, que tinham vários CDs dela e, na ocasião, eu tinha um primeiro platônico amor que frequentava, também, a casa delas, e num belo dia eu o vi segurando o álbum "Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão" dizendo que era muito bom, e pronto, foi o suficiente para eu pedir para minha mãe comprar esse CD. Pronto falei. Coisas de adolescente né minha gente, mas quem é que nunca se apaixonou por canções/artistas dessa maneira, através de paixonites!? Isso foi só o começo, e depois da compra desse CD vieram outros, eu a galera lá de casa passamos a gostar por demais, ultrapassando a barreira do “Bem que se quis”, canção que a projetou. Hoje, em casa, temos quase todos os  álbuns da Marisa, ou seja, #teamMarisa.
 

Mas, o que quero dizer diante desse pequeno relato, é que através da música, seja ela do artista que for, o que prevalece são as lembranças e histórias que recordaremos para sempre e do novo que podemos construir, sempre tendo como trilha aquela música/artista que marcará para sempre o momento. Música transforma o que somos juntos, sozinhos, tristes, alegres... Música é (nossa) cultura. Amo, simples e intenso assim.

Por fim, escolher uma música da Marisa Monte para encerrar esta postagem foi um desafio e tanto, fiquei entre várias canções, mas a escolhida foi a Infinito Particular, do álbum com o mesmo nome, simplesmente por ser tão delicada, linda, sofisticada, depois que parei nela não consegui mais pensar, cantarolar e mentalizar em outra para deixar registrado aqui, neste meu infinito particular, deleitem-se!

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Paradoxo, nada nos separa



Olá amigos,

Por causa de alguns perrengues que me aconteceram e me fizeram refletir (eufemismo mode on) há algumas semanas, este post merecia um super momento fala que eu te escuto (sic). Mas, eu não estou a fim de ficar de bad por aqui, pois apesar dos pesares estou radiante com os acontecimentos maravilhosos que, também, estão me acontecendo. Sim amigos, minha vida está, para variar, um verdadeiro paradoxo, afinal de contas a vida nesta terra é assim, feita de altos e baixos.

Enfim, explicações à parte, e ao invés do clássico mimimi, nada melhor do que um bom e velho momento epifânico, por essa razão a minha escolha da semana é: A Revolta dos Dândis, dos Engenheiros do Hawaii, pois diz tudo o que sinto algumas (maioria das...) vezes: uma estrangeira, que está de passagem, entre o real e o abstrato, tentando me encontrar na linha tênue entre a loucura e a lucidez, ai ai essa música é linda. Aliás, as letras e melodias do Humberto Gessinger poderiam perfeitamente estampar qualquer fase da minha vida, seja ela triste, alegre, niilista e paradoxal, Engenheiros me representa:


A Revolta dos Dândis - Engenheiros do Hawaii

“...Entre os outros e vocês

Eu me sinto um estrangeiro

Passageiro de algum trem

Que não passa por aqui

Que não passa de ilusão...”



Trecho extra, esse é para acabar...
 
Antes de encerrar esse post em definitivo, cá entre nós, nada mais démodé do que mania de perfeição né? E graças a Deus eu não sou perfeita. Isso não quer dizer que não vou querer evoluir como ser humano, é o que procuro. É o que busco. Evolução dentro daquilo que sou, dentro daquilo que posso e acredito. 

Nasci para aprender, vivo por descobrir sentido na vida, sou movida por paixões, escrever me liberta.


Um ser sendo.