Eu sempre fui fascinada por intertextualidade, acho interessante e inteligente pessoas que souberam fazer uma releitura de um outro texto. Um exemplo pra lá de memorável são as várias versões de Canção do Exílio, originalmente escrita por Gonçalves Dias e usada como modelo por Murilo Mendes e Oswald de Andrade. Muita gente já pensou em paródia, na verdade, o que diferencia o intertexto da paródia é o humor, que é obrigatório na paródia de algum texto.
Por * Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa,
que amava Raimundo,
que amava Maria,
que amava Joaquim,
que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
A Canção:
Flor da idade
Por * Chico Buarque de Holanda
Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha
Há vários exemplos de intertexto explícito, como o caso da Canção do Exílio, mas o que me inspirou a escrever este post foi o diálogo que Chico Buarque fez com sua canção Flor da idade versus A Quadrilha, poema de Carlos Drummond de Andrade.
O poema:
A QuadrilhaO poema:
Por * Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa,
que amava Raimundo,
que amava Maria,
que amava Joaquim,
que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
A Canção:
Flor da idade
Por * Chico Buarque de Holanda
A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor
Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha
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