sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Antiperipléia



Elenco Cia Nuvem da Noite (Antiperipléia)

Estive no Ribeirão Em Cena para assistir Antiperipléia, peça baseada em duas obras de Guimarães Rosa, adaptadas por Gilson Filho, com direção de Renato Ferreira, e em meio à narrativa de noivas cegas intervendo no percurso do Augusto Matraga (“A hora e vez de Augusto Matraga”) e Soropita (“Dão-lalalão – O Devente”), posso afirmar que vivi, em uma hora e dez de espetáculo, uma catarse inesperada.


Inesperada, pois antes de ir prestigiar a peça, me preparei para encontrar a dificuldade na linguagem de Guimarães Rosa. Imaginava, sim, algo espetacular, porém, com suas limitações. Trabalhei mente, olhos e ouvidos, todos os sentidos, para que eu pudesse sentir Antiperipléia. 


Mas, eu me surpreendi euforicamente desde o primeiro apagar de luz. Apagar de luz porque ao adentrar ao teatro para me acomodar, os atores, já travestidos, estavam em suas marcações. Tudo começa quando se apaga, e esse apagar já provocou em mim as melhores sensações, anteriormente aguçadas. O que esperar?


Noivas Cegas. Corpos. Performance. Vozes. Batuque. Tudo ali no palco. 


Linguagem. E para minha surpresa, um Guimarães Rosa popular na prática. Compreensivo. Inimaginável.


A proximidade sentida desse ambiente surreal, fantasmagórico, é movida pelas paixões dos sujeitos, que cometem atitudes fortemente identificadas, sujeitos possíveis, tudo trabalhado magistralmente. Não tem como não se reconhecer no palco. Sim, catarse na sua forma mais explícita.


Ontem pude constatar, ver para crer, em Antiperipléia, que Guimarães contou o que somos. Guimarães nos representa.

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