quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre “Mulheres Vermelhas” (a peça)

Foto: site jornal "A cidade"






No dia 31/4/2011, estreou a peça “Mulheres Vermelhas”, dirigida e idealizada por Gilson Filho, criador da ONG de teatro Ribeirão em Cena.



“Mulheres Vermelhas”, como o próprio nome sugere, conta histórias de mulheres que sofreram em nossa história recente por lutar contra a ditadura militar nos anos de chumbo (1968-1974). Esse assunto até hoje é polêmico e um tanto quanto velado pela maioria das autoridades políticas e pelos grandes meios de comunicação.



“Mulheres Vermelhas” inicia-se com o sofrimento de Antígona de Sófocles, presa e torturada por enterrar o irmão assassinado; passando pela índia Potira; logo mais pelo nazismo e o terror vivido pelos militantes no Brasil na era Vargas, que presenteou Hitler com a mulher de Luís Carlos Prestes, a alemã Olga Benário; falas de Zuzu Angel, remetendo ao desespero de uma mãe aflita por notícias do filho; interpretações das militantes políticas de Ribeirão Preto: Áurea Moretti, Cidinha e também pela injusta prisão e tortura de Madre Maurina.



Todas as cenas da peça são consideravelmente importantes e chocantes, fazendo com que saibamos das memórias mais trágicas destas mulheres, desta época. Mas a cena que mais chamou a minha atenção para a indignação e revolta foi a de um diálogo entre um militante preso com seu carrasco: o preso político diz ao militar que um dia eles pagarão pelos crimes e pelas torturas cometidos, em seguida o carrasco dá uma risada e diz que ninguém paga/pagará por crimes políticos no Brasil, e que antes de acabar a ditadura o governo militar criará uma lei de anistia e todos eles serão poupados, fazendo com que todos (população) se esqueçam do ocorrido.


De certa forma foi isso o que aconteceu. Houve o fim da ditadura com a lei da anistia e os monstros/ carrascos foram “perdoados”. Eles se safaram.



Enfim, emoção e indignação são sentimentos experimentados durante toda a peça. Para mim foi um verdadeiro momento cartático.

Revendo o contexto histórico da época dá para entender perfeitamente a precária condição intelectual e social que vive a maioria da população no Brasil nos dias de hoje e como se deu o seu desenvolvimento.


Sem dúvida nenhuma há resquícios da violência, censuras e desigualdades impostas no passado. Hoje contamos com uma sociedade de jovens e adultos que mal sabem o que significa uma ditadura e quando ouvem falar sobre mortes e torturas ocorridas há apenas alguns anos em lugares e cidades tão próximas ficam chocados por nunca terem ouvido falar dessas histórias. Nos dias de hoje as pessoas são incapazes de enxergar a desigualdade existente.



Durante a ditadura militar houve privações na educação, ensinar as pessoas a pensar foi proibido, matérias escolares essenciais para o desenvolvimento crítico de um cidadão, como filosofia, sociologia, entre outras foram banidas das salas de aula, e quem se atrevesse a falar sobre essas questões era imediatamente tachado de perigoso e subversivo.



A ditadura no Brasil criou e educou pessoas a serem passivas e abaixarem a cabeça para as injustiças, e naquela época, quem teve braço forte, coragem e vontade para mudar esse contexto pagaram com tortura e morte.


Mas penso que enquanto houver pessoas como o Gilson, elenco de Mulheres Vermelhas, filhos de pais de mortos e desaparecidos políticos, militantes que sobreviveram às duras torturas, pessoas que não viveram à época, mas que são capazes de sentir como o nosso País poderia ter sido diferente se o ex-presidente João Goulart tivesse tido tempo de fazer as Reformas de Bases e tantas outras mudanças sociais, enquanto houver pessoas como nós o Brasil terá a chance de ser diferente.



É uma história trágica e recente, mas que há de ter um ponto final justo.

2 comentários:

  1. Nossa, tava querendo tanto assistir mas nao sabia a data. Vc sabe quando será reapresentada?

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  2. Olá Clara,

    Pelo que sei nesta semana será aberta a temporada de apresentações de Mulheres Vermelhas até setembro, se eu nao me engano toda quinta, sexta e sábado.

    Vale a pena conferir.

    Obrigada pela visita ao blog.

    Abraços.

    Marcela.

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