Brasil encantado com Palavra [En]cantada
Por * Marcela Oliveira
“(...) o caminho de silêncios ganha direção, a música dá forma à palavra como se não fosse possível distingui-las. Porque a palavra é imagem que não tem forma, e a música, forma que não tem imagem. Da união nasce um significado. Reconhecemos na letra a melodia, e vice-verso, feito a expressão de uma coisa só.” A música da letra, Fábio Lucas.
O documentário de longa-metragem Palavra [En]cantada (2009), dirigido por Helena Solberg, é um super momento epifânico.
Como é bom e gratificante ver músicos, linguistas e poetas de renomes em um mesmo filme. O documentário passa por vários caminhos em que a música e a poesia percorreram no Brasil, o que nos dá a sensação de que música, história e lirismo podem e devem caminhar juntos.
O filme nos traz depoimentos a respeito dos trovadores; comentários sobre os antigos carnavais de rua e do morro, com destaque para Noel Rosa e Cartola; entendimentos sobre o surgimento da Bossa Nova com João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes entre outros; para logo mais nos fazer deparar com a grande novidade do tropicalismo com Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil etc; até chegarmos ao que conhecemos de música hoje, em um momento contemporâneo de diversidade de estilos.
O documentário conta com participações de primeira linha do cenário artístico musical brasileiro: Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Luiz Tatit, Maria Bethania, Tom Zé, Adriana Calcanhoto, José Miguel Wisnik, Jorge Mautner, Antônio Cícero, Ismael Silva, Paulo César Pinheiro, Lirinha e Martinho da Vila, debatendo sobre a construção do fazer poético e musical no Brasil.
Ver Chico rindo zombeteiro de sua composição de Choro Bandido; Tom Zé (sempre exagerado e belo) caracterizando sua primeira impressão das canções de Dorival Caymmi; Caetano, em imagem de arquivo, na época de Alegria Alegria, tentando explicar a modernidade de sua composição e definindo a cultura pop e massificada da época; Lenine quase aos prantos por causa das variações fonéticas de nossa língua; Maria Bethania caracterizando-se como intérprete amante da poesia; Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, dizendo o quanto a poesia pode e deve ser simples e bela ao mesmo tempo; e perceber que hoje muitos seguem o sempre novo e inesquecível Tropicalismo não tem explicação. É extraordinário.
Para quem se identifica com música, arte e literatura, e também para quem tem interesse na nossa vasta cultura literal e musical, Palavra [En]cantada é obrigatório.
Recomendado para a vida.
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