Elenco Cia Nuvem da Noite (Antiperipléia)
Estive no Ribeirão Em Cena para assistir Antiperipléia, peça baseada em duas obras de Guimarães Rosa, adaptadas por Gilson Filho, com direção de Renato Ferreira, e em meio à narrativa de noivas
cegas intervendo no percurso do Augusto Matraga (“A hora e vez de Augusto
Matraga”) e Soropita (“Dão-lalalão – O Devente”), posso afirmar que vivi, em
uma hora e dez de espetáculo, uma catarse inesperada.
Inesperada, pois antes de ir prestigiar a peça, me preparei
para encontrar a dificuldade na linguagem de Guimarães Rosa. Imaginava, sim,
algo espetacular, porém, com suas limitações. Trabalhei mente, olhos e ouvidos,
todos os sentidos, para que eu pudesse sentir Antiperipléia.
Mas, eu me surpreendi euforicamente desde o primeiro apagar
de luz. Apagar de luz porque ao adentrar ao teatro para me acomodar, os atores,
já travestidos, estavam em suas marcações. Tudo começa quando se apaga, e esse
apagar já provocou em mim as melhores sensações, anteriormente aguçadas. O que
esperar?
Noivas Cegas. Corpos. Performance. Vozes. Batuque. Tudo ali
no palco.
Linguagem. E para minha surpresa, um Guimarães Rosa popular
na prática. Compreensivo. Inimaginável.
A proximidade sentida desse ambiente surreal,
fantasmagórico, é movida pelas paixões dos sujeitos, que cometem atitudes
fortemente identificadas, sujeitos possíveis, tudo trabalhado magistralmente.
Não tem como não se reconhecer no palco. Sim, catarse na sua forma mais
explícita.
Ontem pude constatar, ver para crer, em Antiperipléia, que Guimarães
contou o que somos. Guimarães nos representa.