segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Habitar o tempo - João Cabral de Melo Neto

Buenas personas que visitam meu blog.
Ando sumida, com falta de criatividade e com muita preguiça de desenvolver meus pensamentos loucos, absurdos.
Espero que com a volta breve à faculdade tudo isso mude, preciso me alimentar de ideias novas, teorias, epifanias constantes. Estou contando com esse retorno para que minha fase sem criatividade acabe. Amém.
Bom, por essa a razão hoje eu publico um momento epifânico João Cabral de Melo Neto, pois há alguns dias eu estava xoxa, tristinha, aí a Mary me trouxe um livro dele e pediu para eu ler o poema Habitar o tempo. Mudou minha vida naquela momento. A beleza da literatura e todas as formas de arte tem esse poder sobre mim. Amo. Isso é tudo que sei.

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Habitar o tempo

(João Cabral de Melo Neto)

Habitar o tempo
Para não matar seu tempo, imaginou:
vivê-lo enquanto ele ocorre, ao vivo;
no instante finíssimo em que ocorre,
em ponta de agulha e porém acessível;
viver seu tempo: para o que ir viver
num deserto literal ou de alpendres;
em ermos, que não distraiam de viver
a agulha de um só instante, plenamente.
Plenamente: vivendo-o de dentro dele;
habitá-lo, na agulha de cada instante,
em cada agulha instante: e habitar nele
tudo o que habitar cede ao habitante.

E de volta de ir habitar seu tempo:
ele corre vazio, o tal tempo ao vivo;
e como além de vazio, transparente,
o instante a habitar passa invisível.

Portanto: para não matá-lo, matá-lo;
matar o tempo, enchendo-o de coisas;
em vez do deserto, ir viver nas ruas
onde o enchem e o matam as pessoas;
pois como o tempo ocorre transparente
e só ganha corpo e cor com seu miolo
(o que não passou do que lhe passou),
para habitá-lo: só no passado, morto.

Um comentário:

  1. Amiga, João Cabral é motivacional!

    Voltei a escrever e você, por favor, mantenha-nos atualizados!

    Beijos. Tami

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