sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um ser sendo plateia



Quando eu era criança sempre achei que queria ser artista, não querendo me achar a garota prodígio (não sou e não fui) mas o fato é que eu amava tudo o que grande parte das crianças na minha idade nem ligava, como por exemplo, cantoras e cantores da MPB com aqueles vozeirões, estrelas do rock como Queen, Pink Floyd e Raul Seixas, musicais como “A Noviça Rebelde” etc, eu ficava compenetrada e encantada com letras de músicas e escrevia no meu diário poemas, desabafos e sonhos, tudo num tom pessismista (ah esse sentimento me persegue). 

A infância passou, e no colegial meu pai me propôs fazer teatro no Ribeirão Em Cena, eu fui, entrei em contato com vários textos, amava as aulas, e na época presenciei a luta do pessoal de lá para manter o lugar aberto e o salário dos professores em dia, então eu frequentava as reuniões de debates com a minha mãe, só que na hora que ia começar a parte prática de atuação eu travei de medo e vergonha, ou seja, bye bye teatro.

Essa fase passou, entrei para a faculdade de Letras e lá conheci a Marilisa, nela identifiquei logo uma amiga, descobrimos gostos parecidos e nossas epifanias eram na mesma intensidade. Eu e a Marilisa começamos a frequentar peças, shows, teatro e palestras, e num desses nossos passeios descobrimos “A Ópera do Malandro” do teatro Minaz, ficamos encantadas, começamos a ir em todos os espetáculos de lá, e ainda descobrimos que eles aceitavam crianças para o coro, arrastamos nossas irmãs para cantar lá, depois minha mãe foi que se contaminou e entrou no coral da AORP, que faz parte do Minaz. 

Com a entrada da minha mãe na AORP ela tentou convencer eu e a Marilisa a entrarmos também, fiquei tentada, a Marilisa não, sempre teve a convicção de ser plateia, eu queria, eu fui, fiz o teste, passei e apresentei algumas coisas, aí ensaiamos para nos apresentarmos no Theatro Pedro II, foi minha primeira vez nesse palco, e tenho que confessar que para mim não foi mágico como pensei que seria, como todos os artistas diziam que era, não fiquei nervosa, pelo contrário, eu olhava os rostos das pessoas na plateia e pensava como eu queria estar ali com elas, assistindo, esperando para ver o próximo coral. Amo cantar, foi uma experiência ótima, mas depois disso me desliguei do coral, voltei ao meu status de plateia.

Essa fase também passou, e minha constatação foi a de que meu lugar não é nos palcos cantando ou encenando, esse dom não me pertence, e foi tão bom ter feito parte disso, pois ter o reconhecimento da minha posição epifânica de plateia, que é tão intensa, me motivou a ser e a escrever.

Olá, sou Marcela Oliveira, formada em Letras e atualmente estou me especializando em Linguagens Midiáticas. Meu ser é movido por epifanias. As manifestações artísticas me comovem.

Beijo.

De Um Ser Sendo.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Itamar Assumpção, o “maldito” da MPB


Na postagem de hoje quero prestar uma homenagem ao cantor, compositor, instrumentista e produtor musical Itamar Assumpção, que nasceu na cidade Tietê, interior de São Paulo em 1949 e faleceu em 2003, vítima de câncer.

Conheci as canções do Itamar por meio da minha professora/ orientadora Fabiana Borsato em meados de 2006, achei incrível que a maioria das pessoas não o conhecia, mas isso é facilmente explicado, ele não fazia parte das grandes gravadoras, por isso o difícil acesso e o apelido de “maldito”.

Juntamente com outros músicos, como o pessoal do Grupo Rumo e parceiros de peso como Arrigo Barnabé, Paulo Leminsk, Alice Ruiz etc, Itamar Assumpção fez parte da Vanguarda Paulista nos anos 70 e 80. O propósito principal desses músicos era o de romper com as gravadoras, podendo produzir sons livremente. O palco principal das apresentações da Vanguarda Paulista era o Teatro Lira Paulistana.

Vários artistas conhecidos gravaram suas canções, entre eles estão Zélia Duncan, Ney Matogrosso, Cássia Eller entre outros.

Com a apresentação resumida deste grande artista, agora deixo para apreciação de vocês letra e música de “Cultura Lira Paulistana”, de autoria de Itamar Assumpção. Deleitem-se:


A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura como pode se segura
Mesmo assim mais um pouquinho
E seu nome será amargura ruptura sepultura
Também pudera coitada representada
Como se fosse piada
Deus meu por cada figura sem compostura
Onde era ataulfo tropicália
Monsueto dona ivone lara campo em flor
Ficou tiririca pura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que droga merda
Cultura não é uma tchurma
Cultura não é tcha tchura
Cultura não é frescura
A brasileira é uma mistura pura uma loucura
A textura brasileira é impura mas tem jogo de cintura
Se apura mistura não mata
Cultura sabe que existe miséria existe fartura e partitura
Cultura quase sempre tudo atura
Sabe que a vida tem doce e é dura feito rapadura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Cultura sabe que existe bravura agricultura
Ternura existe êxtase e agrura noites escuras
Cultura sabe que existe paúra botões e abotoaduras
Que existe muita tortura
Cultura sabe que existe cultura
Cultura sabe que existem milhões de outras culturas
Baixaria na cultura tanto bate até que fura
Socorro elis regina
A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura
Pobre cultura
Como pode se segura
Mesmo assim mais um tiquinho
Coitada representada
Como se fosse um nada
Deus meu por cada feiúra
Sem compostura
Onde era pixinguinha elizeth macalé e o zé kéti
Ficou tiririca pura
Só dança de tanajura
Porcaria na cultura tanto bate até que fura
Que pop mais pobre pobre pop